Do imenso mundo de Fernando Pessoa, bateu intensamente à porta do meu coração, aquele heterónimo que contempla e vive em comunhão com a Natureza, Alberto Caeiro.
Foi com este heterónimo que mais me identifiquei, o heterónimo cujos versos longos me encantaram profundamente. Sendo Alberto Caeiro uma “pessoa” que sempre viveu numa aldeia, em harmonia com a Natureza, não seria difícil, para mim, estabelecer uma íntima admiração por este poeta. A filosofia de vida que apresenta ao longo dos seus poemas, de aceitação da realidade tal como ela é, sem a problematizar, deveria ser adotada por todos nós. Afinal, será assim tão difícil ser um “Guardador de Rebanhos”, controlar os nossos pensamentos? Bem, sendo humanos, o pensamento é inevitável, mas, como Alberto Caeiro nos demonstra na obra “O Guardador de rebanhos”, poema IX, a vida/realidade é mais feliz se a contemplarmos de forma objetiva. Para quê atribuir significação àquilo que percecionamos? Basta existir para se ser completo.
Por outro lado, fascina-me o sensacionismo adotado por Caeiro. O que seria de nós sem as sensações? Na Natureza, no mundo, os sentidos são aquilo que nos permite conhecer e desfrutar da realidade. “Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la”. De facto, nós, humanos, necessitamos destes sentidos para sermos completos, e esta condição é admiravelmente defendida por Alberto Caeiro: “Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, / Sei a verdade e sou feliz”.
A esta filosofia de vida, ao sensacionismo, acrescento a sua escrita espontânea, simples, como se estivesse num diálogo connosco.
Em suma, Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, com a sua mestria, a sua simplicidade e a harmonia com a Natureza, encanta corações e, a mim, prende-me irremediavelmente aos seus longos versos.