Diário de Escritas

ANO LETIVO 2024-2025

“As estrelas também sonham”, por Diana Ribeiro (11.ºA)

No silêncio do vasto universo, duas estrelas brilham lado a lado.
Uma pergunta, curiosa:
– “Como será a vida lá em baixo?”
A outra responde:
– “Movimentada. Dizem que as cidades deles nunca dormem. Há uma certa beleza nisso, mas lá tudo é tão fugaz, tudo é tão passageiro.”
– “Por vezes, eles esquecem-se de que estamos aqui a observá-los em segredo. São criaturas fascinantes, os humanos, mas choram tanto… Porque choram eles tanto?”
– “Eles choram, porque, ao contrário de nós, a vida deles é um instante. Sabem que têm muito a perder. Tentam escapar ao Destino, correndo contra o tempo, mas o tempo acaba sempre por os alcançar no final”, murmura a segunda.
– “Mas já reparaste como eles também riem?”, retoma a mesma, após uma longa pausa. “Eles caem, levantam-se, amam com todas as partes do seu coração. Os mais sábios aprendem a transformar a tristeza em risos, não em lágrimas, porque, quando a vida é curta, cada momento é precioso. No entanto, alguns prendem-se ao passado, mergulham na cólera e na amargura e, quando chega a hora de partir, arrependem-se de o ter feito. Resta-lhes apenas um gosto amargo nos lábios e uma pergunta que nunca será respondida: ‘E se tivesse sido diferente?’”
Enquanto falavam serenamente, uma sensação estranha surgia dentro das estrelas. No fundo, invejavam a humanidade devido aos seus dias intensos e vidas repletas de paixão. Apesar de serem mortais, dançam na escuridão, brilhando como as estrelas, ou talvez até mais do que elas, pois nas suas almas há um fogo, uma chama que cintila de forma tão vívida e ardente precisamente porque, um dia, se irá apagar.
E assim ficaram as duas estrelas no céu noturno, olhando, pensativas, para baixo, enquanto lá em baixo os humanos olhavam para cima, sonhando. As estrelas zelam pelos seus sonhos, secretamente sonhando também.

*****

“O mar”, por Maria Gonçalves (11.ºB)

Caminho em direção ao mar. Não sei porquê, mas também não arranjei razões para o não fazer. Foi um impulso que me trouxe até onde me encontro.

Neste instante, ao pôr do sol,
Posso dizer que me sinto bem
Ainda não sei porquê,
Mas estou melhor do que ninguém.

Chego e sento-me num banco de mármore frio. Observo o quão as ondas estão agitadas.

Mar, tu que me cá trouxeste,
Que esperas de mim?
E porque é que tão tenebroso
Te encontro hoje assim? Espero desnecessariamente sem obter resposta. Decido aproveitar o momento, decisão que percebo ter logo fracassado.

Não és família,
Não és meu amigo.
Tenho dúvidas em afirmar
Que possas mesmo ser conhecido.

Contudo, penetras no ser que é meu,
Há algo que queres dizer que é teu.

Volto à realidade e reparo que já escureceu. Reflito e levanto-me, como se me fosse despedir.

-Nestas águas espelho-me em ti,
És o reflexo de tudo o que senti.

Mostraste-me o caminho
E foi na tua tempestade
Que eu consegui perceber
A minha realidade.

Agora, sim,
Inspiro o ar da vida,
Que há muito tempo
Estava mais que perdida.

*****

“Partida necessária”, por Vanessa Costa (11.ºA)

Eu gosto de ti.
Não… na verdade, eu amo-te.
Amo-te com todo o peso e poder que o amor tem,
Mas tenho de partir.

Amar-te é uma chama
Que aquecia, mas ultimamente queima.
E, pelo pouco que resta da minha alma,
Ir embora é a única opção.

Não te deixo por falta de amor,
Pelo contrário, faço-o com muita dor,
Mas tenho de cuidar do meu próprio Eu
E guardar a pouca dignidade que restou.

Não é fraqueza.
Não é desistir.
O amor, às vezes, é nobre,
Mas eu sei que preciso de partir.

Não é falta de sentimento.
Muito menos que sejas má pessoa,
Mas preciso de ir
Consertar tudo aquilo que quebraste
E fugir

Carrego-te na memória,
Na saudade que só irá crescer,
Mas a minha própria história
Pede-me agora para viver.

Parto com amor e dor.
Parto com o coração a gritar.
Mas tenho de cuidar de mim
E, pela primeira vez, me salvar.

*****

“Normalidade”, por Marta Couto (11.ºA)

No mundo em que a normalidade reina,
Um oceano de costumes, sem fronteiras,
Eu entrego-me à famosa loucura,
Porque eu prefiro trilhar caminhos diversos,
Com almas que dançam ao som do universo.

Entre padrões e regras tão comuns,
Procuro por amigos que desafiem o comum.
Não quero seguir trilhos previsíveis,
Mas explorar horizontes inacessíveis.

Ando com aqueles que ousam ser diferentes,
Que não se prendem a conceitos emergentes
E não se ficam pelos padrões.
Fujo das sombras que obscurecem a minha mente,
E escolho a luz de quem é transparente.

Não quero andar com psicopatas frios,
Ou com aqueles que seguem por desvios.
Procuro amizades com risos e encanto,
Procuro quem entende o meu ser,
Um tanto ou quanto estranho, se eu puder assim dizer.

A normalidade pode ser uma prisão,
Um enigma que sufoca a imaginação.
Prefiro a amizade que aceita a singularidade,
Em que há história a se contar,
Em que ser um pouco “anormal” é pura liberdade.

Então vem, amigo, junta-te a mim,
Vamos rir-nos dos nossos problemas,
Brincar como se tivéssemos sete anos novamente,
Ser felizes como se não houvesse amanhã.
Nos trilhos da vida, com passos leves e alucinados,
Descobriremos juntos o quão bom é não ser tão “normal”.

*****

Texto de Opinião sobre “A Cicatriz”, obra de Maria Francisca Gama, por Clara Gama (12.ºA)

Sinopse da obra: “Um casal foi de férias para o Rio de Janeiro, numa viagem que prometia ser inesquecível. Depois de dias encantadores, banhados pelo sol e pelo espírito leve e sempre em festa carioca, aproveitam uma das últimas noites para irem jantar fora. Quando terminam a refeição, satisfeitos e apaixonados, decidem ir a pé para o hotel, mas não se recordam se o caminho mais perto é pela esquerda ou pela direita. Como é que a vida pode mudar tanto, apenas assim, por uma escolha irrisória?

Um relato profundo e duro, escrito na primeira pessoa, que se debruça sobre a finitude da vida, as decisões irrefletidas que a moldam e o conceito de amor eterno, com a cidade maravilhosa como pano de fundo.”

Recentemente, foi-me recomendada a leitura do livro “A Cicatriz”, de Maria Francisca Gama, leitura essa que me fez refletir o seguinte:

Enquanto humanos, acredito que, de forma a podermos viver plenamente e sermos felizes (claro, cada qual com as suas próprias cicatrizes), somos obrigados a desconsiderar que o mundo não é um local bom. Ao redor do planeta, a cada segundo que passa, há alguém em sofrimento. Tal é, claro, por vezes inevitável, mas muito deste sofrimento é causado por outras pessoas. Seria antagónico, claro, o Homem conseguir ser feliz num ambiente carregado de maldade causada por ele próprio. Estatisticamente, ao redor do mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde,) 1 em cada 4 mulheres é vítima de abuso sexual durante a sua vida. No nosso país, cerca de 40 mulheres foram violadas por mês no passado ano de 2024. No Brasil, país onde decorre a ação desta obra, foi registado (também em 2024) um caso de violência sexual a cada 6 minutos. Tal como todas estas mulheres, a personagem principal desta obra carrega sonhos, esperanças e histórias, e vê tudo isto desvanecer por meio da crueldade do ser humano.

Uma obra dura, nua e crua, que faz o leitor refletir sobre como o ser humano carrega consigo a praga da violência. Apesar de abordar um tema importantíssimo, e que reflete a realidade de muita gente, não recomendaria a leitura desta obra, contradizendo os milhares de opiniões que vi “online”, já que, como referi previamente, de forma a sermos felizes, devemos (infelizmente) ignorar certos acontecimentos, e esta obra teve como principal efeito lembrar-me da desumanidade que ecoa no mundo em que vivemos.

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“Desliguem-me tudo”, por Tiago Freitas (12.ºA)

Desliguem-me tudo. Estou mais que farto. Estou fartíssimo. Estou cansado de tudo. Digam ao “Sôr Engenheiro Naval” (1) para desligar as suas prediletas, que o ruído delas me martiriza até ao mais minucioso átomo que me constitui.

Esta febre crónica tem estado mais que acesa. Não tão acesa como essas luminárias que me esturricam as retinas, imperfeição da invenção humana que simula mal e porcamente as graciosas e minuciosas lâmpadas celestiais que navegam naqueles mares infinitos de veludo negro que nos envolvem quando o Astro Rei se vai.

Sim, sou um ocidental, mas não quero mais ter de andar “Ao Gás”. O tresandar do gás ficou lá no tempo de Cesário (2), graças a Deus, mas o que comigo está agora é o ruído que os eletrões cismam em produzir naqueles candeeiros vertiginosos, que mal iluminam as ruas com o seu brilho laranja cansado.

Moços! Espetem pregos nos cascos dessas montarias fumarentas. Troquem as jerricãs de vinho árabe obscuropor qualquer outro líquido suspeito. O ronronar daqueles motores nas horas de ponta cinge o meu pensamento. Agora para os meus não simpatizantes, se me quiserem ver morto, enfiem-me num daqueles jazigos cinzentos, cheios de vitrais rodeados por ainda mais jazigos com arquiteturas do mais sem alma que há, murchas, monas. Não quero contrair a maleita desse ambiente doentio, o cancro urbano.

Minhas gentes! Queimem os placares abissais, cheios de cores mais que vibrantes e hipnóticas que nos drogam, nos deixam anestesiados e viciam a seguir filosofias do Cifrão e do Ouro (3) e dos seus servos, os homens de gravata que honram a arte teatral e do fingimento naqueles auditórios nobres.

Estou saturado… Não aguento mais aqueles ecrãs com tamanhos que invejam fachadas de gloriosos monumentos, a cegar-me as vistas e a estourar com os meus tímpanos. Será real aquilo que vejo nesses televisores? Deverei eu confiar no sensacionalismo exacerbado e desmedido que esses pivôs e apresentadores adotam? Arre, para além desta insatisfação, tenho a praga pirronista a consumir todas as minhas crenças e fé. (4)

Estilhacem esses ponteiros que nos regem! Aquele movimento circular dá-me náuseas e o repicar dos segundos age como um florete que me fura. Nem o sino da igreja faz uma pausa para que eu possa acabar de escrever este meu lamentar… Nem quando pouso a boquilha na boca, sopro e pressiono as chaves do meu instrumento esse cretino me deixa. Sempre com o insistente metrónomo a exercer uma ditadura perante as quase melodias que tento tocar.

Ele levou o Tiaguinho para longe… Onde é que estás agora? Com ele roubou também a minha inocência, a minha real Felicidade, e em troca o que deu? Nada. Bem, deu sim senhor. Deu-me uma cabeça que não para de pensar. Ainda ando à procura do travão de mão desta coisa, dava-me jeito saber…

Estou vazio. O que me resta? Meramente eu, eu e o meu pensar. Essa besta.

NOTAS:

(1)-Referência a Álvaro de Campos e à Modernidade (“as suas prediletas”).

(2)-Referência à 3.ª parte do poema O Sentimento de um Ocidental, de Cesário Verde, na qual o sujeito poético deambula à luz dos candeeiros a gás (que tresandavam).

(3)-Consumismo.

(4)-Referência ao Ceticismo Pirrónico, corrente filosófica que defende que não podemos provar a existência/possibilidade de conhecimento, neste caso relacionando-se com a ideia de que tudo o que vemos e sentimos pode ser meramente ilusão ou irreal.

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“Ter medo”, por Leonor Dias (11.ºA)

Tenho medo de não conseguir,
De falhar antes de tentar.
Fico parada, sem conseguir decidir,
Com medo de me magoar.

Nunca vou saber o que posso alcançar,
Se não me atrever a tentar.
Errar faz parte de aprender
E é assim que vou crescer.

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“Será que sou suficiente?”, por Vanessa Costa (11.ºA)

Às vezes, sinto-me pequena
Como uma vela em vasto mar,
E, mesmo acesa, pareço tão amena,
Tão distante do que quero alcançar.

A vida pede, mas eu escorrego
Como água que escapa entre os dedos.
O peso da dúvida, a cada passo,
Faz-me questionar os meus próprios medos.

Não sou o bastante, ou assim parece,
No espelho, a imagem se desfaz.
Tento ser mais, mas o corpo enfraquece, adoece,
Perdido entre o que sou e o que me faz.

Olho para o céu, procuro estrelas,
Mas só vejo noite e escuridão a me rodear.
E dentro de mim, vozes paralelas
Sussurram que a dor não irá passar.

Ainda assim, sigo em frente, embora me falte
O ego da certeza que me acalma.
Talvez, na falta, seja onde se exalta
A força que se esconde na alma.

Porque ser suficiente não é o fim,
Mas o caminho de aprender a ser,
E aceitar que a vida, no seu confim,
Nos ensina a viver, mesmo sem pretender.

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 “Tu és a minha casa”, por Leonor Dias (11.ºA)

Há em ti um lugar que me guarda,

Um abrigo onde a calma não tarda.

Nos teus braços encontro calor,

Um refúgio feito de puro amor.

És a casa onde quero ficar,

Onde o mundo não pode entrar.

Com o teu riso, a luz vem brilhar,

E o meu coração aprende a descansar.

Cada palavra tua é um lar

Cada silêncio, um porto para ancorar.

Em ti não há medo, não há solidão,

Só paz que acalma o meu coração.

Seja onde for, sei onde estou,

Enquanto te tiver, nunca me vou.

És a minha casa, onde vou renascer,

Casa que escolhi para sempre viver.

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“𝐎𝐬 𝐜𝐚𝐦𝐢𝐧𝐡𝐨𝐬 𝐝𝐚 𝐯𝐢𝐝𝐚”, 𝐩𝐨𝐫 𝐂𝐚𝐫𝐨𝐥𝐢𝐧𝐚 𝐎𝐥𝐢𝐯𝐞𝐢𝐫𝐚 (𝟏𝟏.º𝐀)

Nos caminhos da vida
Que nem sempre são direitos
Encontro vários dilemas
Serão meus os defeitos?

As escolhas que faço
Nem sempre são corretas
Ando, tropeço e corro
Mas nunca em linhas retas!

Às vezes dou cabeçadas
Que são lições de vida
Que, bem interpretadas,
Fazem-me andar de cabeça erguida!

Quando caio, tenho medo!
Mas tento me levantar
Mais tarde ou mais cedo
O medo hei de espantar!

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“Nos dias de hoje, é difícil para um homem”, por Afonso Dias (11.ºA)

Nos dias de hoje, é difícil para um homem
Mostrar a sua dor,
Seja pela falta de coragem
Ou pela dificuldade de falar sobre o amor.

Somos fortes,
Dizem que não podemos chorar,
Mas a verdade é que de noite
Só nós sabemos curar a ferida sem ninguém a olhar.

As lágrimas escorrem na cara
A solidão tendenciosa aumenta,
O tempo passa e, por mais que queiramos,
A ferida não sara.

São pesadas e sem cor,
Trazem memórias que atrapalham a nossa forma de amar,
Mas limpamos a cara, disfarçamos a dor,
Seguimos em frente sem deixar de nos revelar.

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Rasgado sentir

Dois corações, em luta cega e fria,
tentam fugir ao que é já verdade,
um amor gravado na pele do dia,
mas que negam, por orgulho ou vaidade.
Olhares que se tocam, fogo que arde,
gestos contidos num silêncio antigo,
fingem não ver o que deviam ser,
dois mundos num só, lado a lado, em abrigo.
É medo, talvez, ou dor mal curada,
a mágoa guardada que manda afastar.
Mas negar o amor é ferida calada
que mata por dentro quem não quer amar.
E seguem, sozinhos, fingindo vencer,
mas o tempo ri de quem foge em vão.
Um dia, rendidos, irão perceber
que o amor não se apaga quando é de paixão.

Iris Letícia Mota Nunes, n.º8, 10.ºA

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Rota do Halloween

A rota do Halloween é um caminho que tu podes visitar entre a cidade das Doçuras e a cidade das Travessuras. Entre elas, numa rua de pedra de 200km de distância, podemos visitar várias casas gulosas e assombradas, onde crianças e adultos podem divertir-se e experimentar o percurso do doce para o amargo, ou ao contrário, dependendo de onde começa.

O mais engraçado é a escolha da partida, pois ou se acaba a comer, ou se acaba a brincar. E durante o percurso é possível ainda muito aprender sobre como se fazem os doces ou como se fazem as travessuras.

Assim, partindo da cidade das doçuras, a primeira casa que encontramos é a casa dos Ursinhos, onde se podem experimentar as gomas mais deliciosas do mundo. Logo a seguir podemos visitar a casa dos gatos pretos onde ficamos a conhecer as bombas agridoce numa mistura deliciosa. A terceira casa, chamada de casa da aranha, dá-nos a conhecer as teias de açúcar em que podemos ficar enrolados se nos portarmos mal. No final, antes de chegarmos à cidade das travessuras, podemos ainda visitar a casa do lobisomem, cheia de uivos que nos fazem tremer pelas partidas que nos vão fazer.

E assim, quando chegamos ao fim, conseguimos ter uma experiência maravilhosa e terrorífica das brincadeiras do Halloween. Claro que a melhor época, e a única época possível de visitar, é a 31 de outubro no dia do Halloween. Para isso, só é preciso ter uma vassoura para ir a voar com a bruxa Nariguda durante a visita.

Ariana Pereira, 6.º B

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A palavra “Avô”, por Eduarda Gomes (11.ºB1)

Aprendi a escrever a palavra “avô” com seis anos. Diziam-me:

– A palavra “avô” tem um chapéu, porque os avôs usam chapéu.

– A palavra “avô” tem um bigode, porque os avôs têm bigode.

Na realidade, isto era uma grande mentira. Nenhum dos meus avôs usava chapéu ou tinha bigode. Apesar de não saber ainda distinguir os acentos, eu sabia bem o significado da palavra.

O “avô” era quem me levava à escola, era quem cantarolava músicas antigas.

O “avô” tinha uma barriga grande e alguns até a usavam como almofada.

O “avô” foi quem me ensinou como se deve comer a sério.

O ”avô” era quem apanhava grilos e me explicava tudo sobre eles.

O “avô” era o avô, sem chapéu e sem bigode, mas era o meu AVÔ.

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“Alberto Caeiro, o bucólico inovador”, por Henrique Reinaitt (12.ºA)

Do imenso mundo de Fernando Pessoa, bateu intensamente à porta do meu coração, aquele heterónimo que contempla e vive em comunhão com a Natureza, Alberto Caeiro.

Foi com este heterónimo que mais me identifiquei, o heterónimo cujos versos longos me encantaram profundamente. Sendo Alberto Caeiro uma “pessoa” que sempre viveu numa aldeia, em harmonia com a Natureza, não seria difícil, para mim, estabelecer uma íntima admiração por este poeta. A filosofia de vida que apresenta ao longo dos seus poemas, de aceitação da realidade tal como ela é, sem a problematizar, deveria ser adotada por todos nós. Afinal, será assim tão difícil ser um “Guardador de Rebanhos”, controlar os nossos pensamentos? Bem, sendo humanos, o pensamento é inevitável, mas, como Alberto Caeiro nos demonstra na obra “O Guardador de rebanhos”, poema IX, a vida/realidade é mais feliz se a contemplarmos de forma objetiva. Para quê atribuir significação àquilo que percecionamos? Basta existir para se ser completo.

Por outro lado, fascina-me o sensacionismo adotado por Caeiro. O que seria de nós sem as sensações? Na Natureza, no mundo, os sentidos são aquilo que nos permite conhecer e desfrutar da realidade. “Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la”. De facto, nós, humanos, necessitamos destes sentidos para sermos completos, e esta condição é admiravelmente defendida por Alberto Caeiro: “Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, / Sei a verdade e sou feliz”.

A esta filosofia de vida, ao sensacionismo, acrescento a sua escrita espontânea, simples, como se estivesse num diálogo connosco.

Em suma, Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, com a sua mestria, a sua simplicidade e a harmonia com a Natureza, encanta corações e, a mim, prende-me irremediavelmente aos seus longos versos.

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“Sentimento de Culpa”, por Vanessa Costa (11ºA)

A culpa é sombra que pesa no peito,
É vento gelado, é silêncio desfeito.
Nas noites vazias, o eco ressoa,
Uma voz sem dono, que nunca perdoa.

É um nó na garganta que insiste em ficar,
Um passo errado que volta a ecoar.
Nos olhos cansados, o reflexo é partido,
O tempo congela, o erro é mantido.

Mas a culpa é um rio, corrente sem fim,
Que pede perdão, que deseja um sim.
Se a deixarmos ir, o mar há de vir,
Trazendo alívio, deixando fluir.

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“Verdes Anos”, por Tiago Freitas (12.ºA)

No instante em que dizia “Até Logo” e me dirigia à porta para sair, dão, num brevíssimo instante, alguns acordes numa reportagem que passava na TV. Eram inconfundíveis. Naqueles escassos segundos reconheci logo a melodia da nossa guitarra portuguesa trinada por Carlos Paredes. Era “Verdes Anos”.

Aproveitei, já que aquela melodia lusa não saía da minha memória, e, no caminho para a escola, fui ouvindo os trinados de Paredes. Para além de “Verdes Anos”, a “Balada de Coimbra” e a “Em memória de uma camponesa assassinada” foram melodias que arrendaram vivenda na minha cabeça o resto do dia.

Era segunda-feira. E a meio da manhã provara o gosto da incompreensão. O não reconhecimento. O esforço foi em vão.

Chegara à raiz, o meu Rio Mau. Eram quase duas da tarde. Sentia ainda muita revolta. Cerrei-me em casa algum tempo na escrivaninha a estudar. Por volta das 16h00, a Sra. Maria Arminda veio ao andar de baixo perguntar se já era para ir encher o buxo. Pedi-lhe que esperasse até às cinco menos um quarto para me preparar o café.

“A música de Carlos Paredes é a música mais portuguesa que existe”. Dissera isto alguém. Concordo plenamente. O trinar daquelas cordas transporta a “portugalidade”, a saudade, o patriotismo. As melodias continuaram vivamente presentes ao longo do dia. E mal sabia eu que seria a trilha sonora de quase um mês, uns trinta dias de guerra.

Subi ao andar de cima para lanchar. Como sempre, a minha avó, Maria Arminda, fuzilava o Manel Cortiça, o meu avô. Entretanto, chegara um outro neto, do (bairro) Além Ribeiro, com a sua companheira. Ambos são músicos. Ele percussionista e ela oboísta. O Manel Cortiça, aproveitando o contexto, perguntava como iam as minhas aulas e as do meu irmão na escola de música da nossa banda.

O homem adorava ouvir o entoar das notas projetadas pelo meu saxofone. Eu adorava aquele tempo, sempre ali passado a lanchar com eles. Era um refúgio. Mal eu sabia que seria o último, pelo menos, o último durante um longo, quase interminável, período negro, ingrato, frio que iria abraçar os “Cortiças”.

Na manhã seguinte, 14 de novembro…. Fora apocalíptico esse dia…

Instalara-se um alarido em casa. Sentia a minha mãe assustada. Recebera um telefonema vindo da Lomba. Era a minha tia. Quando soube o mote da ligação, fiquei congelado por uns momentos. A minha mãe dissera-me que a minha avó fora atropelada. Eram sete da manhã e o dia começava já assim. Ela fora apressada a correr para a marginal, na curva do Meandro, um pouco mais à frente, mais precisamente onde acontecera o acidente.

Eu tinha ficado em casa a cuidar do meu irmão, quando recebera outro telefonema, a pedir os documentos, peguei nas trouxas da escola, sem saber muito bem se tinha tudo, fui a correr abaixo o bairro todo.

Fiquei perplexo. Via aquela figura, sempre imponente, a personificação de ambição, consistência, resiliência e teimosia, ali, estendida no chão.

Fui para a paragem mais próxima. Passei desde as 7:10 até às 8:30 tortura imensa. Ver a “vó” ali no asfalto, imóvel, e umas quantas bisbilhoteiras do outro lado da estrada a fazer conjeturas erróneas. Fui humano e deixei-me ser dominado por aquelas falsidades proferidas.

Diziam que a Maria Arminda estava inconsciente a derramar sangue. Mentiam. Pelos vistos, no resto da aldeia, já diziam que a vítima tinha sido a mulher do Risadas, e que já estava enrolada em lençóis, morta numa valeta.

Fiquei abalado com aquilo tudo. Fora um tufão de emoções. Os próximos dias seriam pesadelos autênticos.

Ainda hoje desconheço alguma ligação da música de Carlos Paredes com aquela mulher. Ao “Fado Moliceiro” e à “Sede e Morte” fiquei rendido. Faziam-me lembrar a Maria Arminda.

O “vô” ficara abalado. Notou-se aí o amor que o homem sentia pela mulher que contra ele discursava sempre. O que mais me surpreendera fora o facto de nós, netos, filhos, genros, noras, não termos conseguido fazer aquilo que aquela mulher ambiciosa fazia todo o santo dia. Desde cuidar da lavoura, pensar as ovelhas, tratar das achas para o fogão a cuidar da casa…

Eu sentia-me puxado para todos os lados e direções. Era desumano conciliar tudo. Escola, vida, guerra. Pouco dormia. De manhã quase cambaleava. Só via como refúgio as aulas que ia tendo na banda. E, claro, o trinado de Paredes.

Nas tardes livres, ia estudar para a sala do compasso. A divisão de que os antigos apenas usufruíam na Páscoa. O salão era muito gelado e não valia a pena ligar outro fogão. Vira brilho nos olhos do “vô” quando trouxe a mala de couro do saxofone, já com sinais de muito uso, para o andar de cima. Para consolo dele, pus-me a tocar algumas peças. Vi-o realizado.

Felizmente, a Maria Arminda estava a recuperar, apesar de terem sido descobertas mazelas de acidentes já passados. Podiam ter sido tratados na altura, mas, por teimosia, a avó recusava-se a ir ao médico. Podem não acreditar, mas esta senhora, outrora, levou com um eucalipto em cheio na cabeça. Quebrou o crânio, e simplesmente continuou a viver a vida normalmente. Deveras impressionante.

Achei miraculoso o facto de termos sobrevivido a estes tempos de guerra. Raramente havia paz em casa. O momento mais aguardado por mim era quando ia dormir.

Agora, com a Maria Arminda a recuperar em casa, aos poucos vai tomando tudo o seu lugar, bem, quase tudo, tirando as serenatas jazzísticas ou os constantes trinados mágicos de Paredes, que vieram para ficar…

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“Estou bem”, por Diana Lopes Ribeiro (11.ºA)

Pergunta-me como estou, e eu direi que estou bem. Mas, esta noite, adormeci com os olhos em lágrimas, soluçando baixinho para que ninguém me ouvisse. Guardo tudo dentro de mim, enterrando os meus demónios nos confins do meu coração. Mas, não importa o quanto eu tente, eles acabam sempre por voltar, devorando-me por dentro. Estou tão cansada de sorrir quando não me apetece, de fingir que estou feliz quando não estou.

Só queria poder contar-te a verdade, mas não consigo. A culpa não é tua, eu é que nunca sou capaz de dizer o que sinto.

Por isso, da próxima vez que me vires, não me perguntes como estou, porque direi que estou bem…

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“O Enterro”, por Tiago Freitas (12.ºA)

                A noite estava impossível de se aturar. Chovia torrencialmente. Havia muita ventania. Venci o sono e, às 6:00, como ainda era cedo, refastelei-me na poltrona, liguei o rádio e pus-me a divagar por aquele Jazz Noir que passava na Antena 2.

                Passei hora e meia, meio a dormir, meio acordado, iluminado apenas por aquela delicada lâmpada amarelada que brilhava na sombra calma e molenga daquele cubículo.

                O tempo lá fora ia acalmando progressivamente. Resolvi espreitar, saindo. Já não chovia, sentia-se aquele cheiro emblemático a terra molhada e o céu ainda se mostrava indeciso, naqueles tons cinzas claros e escuros, quanto a se ia chover ou não… Já não ventava, até se ouviam uns chilrearzitos de pequenos pássaros.

                Voltei para dentro. Fui à janela que mirava o Douro. Daí via que a estrada estava pouco movimentada. Não via a correria habitual das gentes que iam de manhã, ocupar-se do seu mester. Não passavam os habituais rebanhos de camiões, de cisternas, de Pick-ups, as camionetas e as carrinhas que levavam os trabalhadores para os estaleiros e as gentes da apicultura para as fábricas. Era muita monotonia para uma sexta-feira.

                Viro-me de volta. Reparo que, na estante, um livro se empoleira da prateleira, prestes a cair. Estava desfasado da harmonia organizada dos outros livros, estava mais para fora. Talvez alguém tenha tido vontade de ler aquela obra, que, depois, quando me aproximei um pouco, vi que era a obra dramática de Garrett. Ora, veio mesmo a calhar. Se cá tivéssemos uma D. Madalena2, esta diria logo que a estranheza deste dia era presságio, aliás, já por experiência sabia ela que a sexta-feira era dia de agouros.

                Parece que Apolo se lembrou de perfurar um pouco aquele cinzento dilemático. Resolvi dar uma volta. Vesti o capote e saí.

                Resolvi ir sem rumo. Assim como ele invocou Camões, eu invoco-o a ele mesmo, o homem dos “passeios sem rumo”, das divagações, das deambulações, Cesário Verde1.

                Subi a rua Belo Horizonte. Cheguei ao entroncamento. Virei à esquerda para quem vai para as Corgas. Os raios luminosos começaram então a fraquejar.

                Passava rente ao muro dos campos da antiga casa do Sr. Guloso. As vinhas pendiam para o caminho, estavam ali debruçadas, sem vigor, definhadas. No lado de baixo do caminho, nem se viam os coelhos bravos a esgaravatar no mato ao lado da casa da Nair.

                Aquele silêncio era ensurdecedor. Avisto mais à frente o fontanário das Corgas.

                Aquela fonte estava seca. Nem uma gota saía daquela torneira. O banco de pedra, ao lado, estava coberto por um monte de musgo. Já ninguém por ali passava há eternidades. Prossegui.

                Passei pela casa do velho Manel Cazoto, onde se matava o porco. Agora já nem há porco para matar, nem Manel Cazoto para se cumprimentar. Aquele terreno é imenso, mas o velho só povoava aquele cantinho, ele e os seus frangos que iam trazendo alguma vida àquele pátio quase deserto. Agora ali há um velho casebre, dominado pela solidão e as ervas daninhas do Tempo que o vão deteriorando.

                Fui descendo as Corgas. Cheguei ao Quartel dos Oito. Em vez de ir pelo caminho que passa à porta da D. Fernanda, resolvi ir pelo outro lado. Naquele momento instalou-se uma ventania repentina. Os campos do Betinho, à esquerda, já tinham algumas espigas, estas ainda molhadas das chuvas da noite. Com a ventania, a tramela dos campos desse meu tio berrava. Aquele ruído parecia um bradar de sofrimento, a pedir ajuda.

                Segui, cheguei aos Justercos. Fui sair mesmo ao lado do fontanário do bairro. Ainda pensei em matar a sede, mas este ainda tinha sido vítima maior do esquecimento e abandono do que o outro de lá de cima.

                Desci os Justercos, cheguei à Sobreira.

                Aquela casa de pedra sempre me cativara quando era pequeno. Imaginava-me no andar de cima, num dia chuvoso, ao abrigo do abraço caloroso de uma lareira, a avistar o Douro. Foi naquele edifício que outrora houve o café do Psica, o “Rio Bom”. Ao passar agora lá, com tudo cerrado, vejo os antigos a lá se dirigirem para tomarem um bom café, conviver e resmungar sobre o desconcerto da sociedade, ou, pelo menos, vejo os seus espectros…

                Desci até à marginal. Por incrível que pareça, as Sedes do Futebol e da Banda estavam desertas. Nunca vi os pátios daqueles estaminés vazios, mas, naquela sexta-feira tristonha, ninguém lá estava para pedir uma boa “jola” ou uns bons copos de vinho.

                A Fonte da Sobreira, o “Fontanário-Rei”, ainda ia pingando umas míseras gotas. Fui espreitar o tanque. Onde as pingas iam incidindo havia uma mancha meio encarnada. Fatalmente intrigante.

                Subi o bairro do S. João. A ventania intensificou-se mais uma vez. Os céus estavam a escurecer-se. Reparei que o Douro estava agitado. Parei na parte mais plana onde fica o fontanário do Outeiro. De todos, este parecia ser o mais dizimado. Tão seco e ressequido que nem o musgo sobrevivia àquele deserto. Os blocos de pedra que compunham a fonte tinham uma pigmentação carmesim desbotada…

                Todas aquelas circunstâncias causavam-me uma angústia que me devorava.

                Segui a rua cheia de altos e baixos que vai dar à igreja. Parei na Pia da Casca. Virei costas ao Douro para ver o rio que dá nome à terra. Ali, diante dos meus olhos, estava o rio Mau que lavrava fragas, abrigava o “Bicho da Luzia”, cachalotes e outros seres míticos, o rio antes da barragem de Crestuma ser construída. Não se via mais o estradão de baixo. Os juncos estavam a ser engolidos pelas águas que iam cobrindo todo o vale. Virei-me para a serra. Até as eólicas nos viraram as costas, e, como elas, as gaivotas fugiram apavoradas do último canto penafidelense.

                Voltei ao caminho principal e dirigi-me à igreja.

                Fiquei petrificado. Havia chegado ao apogeu. Via-te a ti, ali, a falecer nas mãos daquelas gentes. Gentes que desonram o teu brasão, gentes que te desprezam, gentes ingratas, parasitas procrastinadores. Tu, ali, naquele tormento, e eles. ali, a gozar o momento, na maior paz, ali, a prepararem o teu enterro. Contigo morre o nosso rio, contigo morre o Padre Manuel Sousa Tavares e a “Lusitana”, contigo morre a abelha-rainha, morre a abelha-operária e morre o zangão, contigo morre também a abelha que pousa naquela lira bordô bordada naquelas fardas brancas que te levam no peito, contigo morre toda a coletânea de lendas e mitos que te circundam.

                Mas calma, vejo gentes que ainda lutam por ti, que suam e sangram pelo teu legado, por toda a tua história. Gentes que querem preservar o “peito ilustre riomauense3” para o Futuro, gentes que te querem imortalizar, passando pelo desporto, lazer até à Cultura e Arte. Admiro-os…

                Tudo aquilo a passar-se no pátio da igreja e eu, ao fundo da grande rampa, petrificado, sem conseguir agir, a levar com a chuva que fazia da minha cara um oceano… A angústia era um monstro que, naquele momento, me ia rompendo, bem lentamente, esmerando-se no padecer causado até que…

                Acordei.

Notas:

  1. Alusão ao poema de Cesário Verde, “O Sentimento dum Ocidental”.
  2. D. Madalena, personagem de Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett.
  3. Alusão ao poema épico de Camões, Os Lusíadas.

*****

“Desafio das cinco palavras: amarelo, pessoa, parede, mesa e preto”, por Lucas Ferreira (11.ºB3)

À hora do jantar, quando me sentei para comer, reparei na toalha amarela sobre a mesa e logo à memória me veio aquela pessoa que sempre se vestia de preto e se sentava mesmo ali, no cantinho da parede, a ver-me jantar todos os dias. A minha avó.

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“Do meu coração nascem flores”, por Diana Lopes Ribeiro (11.ºA)

Por vezes imagino que estás num vale sereno e verdejante, reunida com todos aqueles que amaste e que há muito tempo se ausentaram deste mundo. E, nesses momentos, sorrio entre as lágrimas, porque estás feliz, e isso é o que eu mais quero. Mas tudo ainda dói e continuará a doer até ao dia em que te possa voltar a ver, abraçar-te e dizer-te tudo o que ficou por dizer. Espero que esperes por mim no vale. E prometo que, até esse dia chegar, não me esquecerei de ti, porque desde que partiste, do meu coração nascem flores – crisântemos, a tua flor favorita.

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“Cicatrizes”, por Marta Couto (11.ºA)

Cicatrizes não são meras linhas traçadas,
São histórias de batalhas em pele gravadas.
Não são feridas abertas, mas ainda assim doem.
São memórias que o tempo não apaga, que ecoam.

Uma cicatriz é um mestre, um sábio disfarçado,
Que ensina sem palavras pelo tempo marcado.
É uma prova de que fomos mais fortes que a dor,
Que sobrevivemos à tempestade, ao pior.

Mas se ainda sinto a cicatriz, como foi curada?
Será que a cura é apenas uma jornada adiada?
Ou será que a dor é um fantasma que fica,
Uma lembrança constante, uma presença antiga?

Cicatrizes são mapas de estradas percorridas,
São marcas de uma vida, de lutas vividas.
Não são apenas traumas, nem somente marcas,
São partes de nós, são as nossas obras-primas, únicas.

Então, o que é uma cicatriz, afinal de contas?
É um sinal de que vivemos, de que enfrentamos pontas.
São capítulos de uma história que ainda não acabou.
São sinais de que, apesar de tudo, a vida continuou.

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“Brilho em noite escura”, por Henrique Reinaitt (12.ºA)

Dentro de cada um de nós, existe um mundo oculto, onde os demónios da nossa mente coabitam entre os pensamentos mais racionais que muitas vezes nos envolvem num mundo de incertezas e dúvidas. São fantasmas do passado, lembranças de falhas e arrependimentos que nos assombram. Cada revolta que sentimos, cada palavra cruel que proferimos são um reflexo da tempestade interna que enfrentamos. No entanto, dentro de cada um de nós há também uma chama de resistência e resiliência. Cada reflexão sobre o nosso autoconhecimento ilumina essa escuridão da mente, até descobrirmos que estes demónios não são invencíveis. São apenas parte da nossa história, capítulos que poderemos reescrever e recordar com coragem e amor. Estes demónios da nossa cabeça são sombras que hibernam em nós, mas que não nos definem. Com força e perseverança poderemos encontrar a paz dentro de cada um de nós, a paz que tanto ansiamos. Afinal, até mesmo nas noites mais escuras as estrelas ainda brilham!

*****

“O que é o Amor?”, por Marta Couto (11.ºA)

Amor, um doce encanto que nos faz sonhar,
Traz de volta a luz do sol, o brilho do nosso olhar.
É um abraço apertado numa noite fria,
É a melodia suave de uma poesia.

Mas o Amor também tem o seu reverso,
Uma dor que chega quieta e, às vezes, imersa.
É uma saudade que aperta, é uma lágrima que cai,
É o silêncio que grita quando o outro não está por perto.

Amar é ter o céu num simples gesto,
É encontrar no outro o nosso melhor resto.
É um riso partilhado, é um segredo guardado,
É serem um só mesmo estando lado a lado.

Porém, amar é arriscarmo-nos a perder,
É entregarmo-nos sem sabermos se vamos sofrer.
É vulnerabilidade, é dúvida, é medo,
É o risco de sentir o coração em segredo.

No Amor, a alegria e a tristeza encontram-se,
Na mesma moeda que gira, elas confrontam-se.
Mas mesmo com o medo de um lado a espreitar,
Vale a pena amar e deixarmo-nos amar.

No jogo do Amor, a sorte é lançada,
Em cada coração, uma esperança ancorada.
É um encontro de almas, é uma conexão sem fim,
É um calor que persiste, mesmo quando tudo parece ser o fim.

Na dança do Amor, os passos são incertos,
Mas cada movimento é um sentimento aberto.
É uma força que move montanhas, que desafia o mar,
É o desejo de estar junto, mesmo quando é difícil de se aproximar.

Amar é construir pontes onde há abismos,
É encontrar caminhos em meio aos precipícios.
É a luz que ilumina as sombras da solidão,
É a certeza que aparece no meio da confusão.

Mas amar também é aceitar a imperfeição,
É entender que o outro é outra construção.
É saber que as discussões vêm, que o tempo é cruel,
Mas que o verdadeiro Amor supera qualquer papel.

Assim segue o Amor, entre altos e baixos,
Entre sorrisos largos e alguns embaraços.
Mas no final das contas, o que fica é a seguinte lição:
Amar vale a pena, com toda a sua emoção.

*****

“Corpo de mulher”, por Henrique Reinaitt (12.ºA)

Corpo de mulher, livro com história
Que sofre em silêncio um tormento.
Cicatrizes que contam a sua trajetória,
Liberdade conquistada em cada momento.

Com coragem e sabedoria,
Ergue-se contra a opressão.
Em cada gesto, uma melancolia,
Corpo de mulher, pura emancipação.

Olhos que brilham com determinação,
No caminho com passo firme.
Coração que bate com paixão.
Corpo de mulher, jamais se reprime.

Ser mãe é o seu destino.
Fonte de vida e amor.
Papel este genuíno,
Corpo de mulher sofredor.

Dá-me um corpo de mulher,
Mesmo que o façam invisível.
Deixai-me ser um malmequer,
“Nu” campo de flores, irreconhecível.

Corpo de mulher, cercado de espadas.
Prisioneiro de normas, de olhares severos.
Lágrimas escorridas de angústias paradas,
De tormento aprisionado num sentimento sincero.

Nasceu para voar, sem a prender.
Mas dentro do peito, um grito que não cala.
Nasceu não para dar, mas para ser,
Corpo de mulher que não abala.

ANO LETIVO 2023-2024

“A BELA METAMORFOSE”, por Tiago Freitas (11.ºA)

Prólogo

“A má notícia é que vais morrer. A boa notícia é a mesma que a má notícia. Essa é que é a piada, mas pensa assim: a larva morre para dar lugar ao casulo, o casulo morre para dar lugar à borboleta. Às vezes, para mudar para melhor, aquilo que somos tem de morrer para dar lugar àquilo que queremos realmente ser… Porque, lá está, como qualquer boa piada, só no final é que vamos realmente entender, certo?” (1).

Assim acabava a faixa 12 daquele álbum cuja capa, a meus olhos, era uma manga, mas, depois de uma profunda análise e reflexão, vi que afinal era um casulo com tons vermelhos e amarelos. Nesta passagem divaguei, e divaguei…

Parte I

Aquela larva nascia no dia 12 de dezembro de 2022, pouco antes das 12 da manhã, ou, pelo menos, esse foi o momento em que ficou consciente da sua existência…. Era uma segunda-feira fria e chuvosa. Os céus chumbados de cinza.

Foi naquela tormenta, na humilhação, no choque abissal tidos no agir daquela figura tirana e suprema que se deu a derradeira morte daquele ser. Seria intrínseca apenas? Foi dali que surgiu a larva, da explosão caótica da índole daquela vítima das conspirações, daquele antigo ser indefinido.

Aquele caos deixara o âmago do bicho numa lástima. Havia todo um fervilhar nas suas entranhas. Tinha um bicho no seu cerne que queria a todo o custo despedaçar o seu corpo.

Mal sabia a pobre criatura aonde iria isto tudo parar.

A pobre larva teve, com “estrondo”, de enfrentar as “MONTANHAS”. Viu-se atraída pelo aroma manipulador dos venenos dos bosques do sopé. Eles gritavam por ela. Suplicavam para que ela caísse na artimanha e se pusesse ali um ponto final fatal. Para não bastar, via todos os outros bichos e criaturas da floresta a avançarem na escalada daquele maciço rochoso sem a mínima dificuldade. O seu “COGITO” dizimava-a. Ainda assim tentava prosseguir. A obsessão (bem, chamemos ambição para ficar mais bonito) havia apagado a palavra “Vida” da pequena larva já mais que calejada.

Os seus mais próximos estavam distantes, não literalmente, mas os desejos utópicos haviam aberto um vale infindável, uma fenda, isolando mentalmente o animal. A Nostalgia começara, aos poucos, a inundar o seu peito. As “MARCAS” envolviam a mente. O lirismo das “SAUDADES” apertava a alma. O âmago do bicho chorava, numa birra intrínseca e melancólica, que ia apodrecendo o seu interior.

Mas houve ali algo. Um clique, não sei…

Morreu de novo. Aquela índole lamacenta fora lavada. Acordei. Calma, eu não, a larva…

Os raios de Apolo começaram a povoar as vistas daquele minucioso ser. Estava a recuperar.

Um positivismo humedecia a filosofia da criatura. Parecia o fim duma história de filmes, um final feliz…. Parecia, sim, mas não era…

Passaram janeiro, fevereiro e março. Estávamos em abril. O cume das “MONTANHAS” havia sido atingido. Teria a criatura agora alcançado o estado de êxtase de Schopenhauer? Teria sido comprovado que “a Vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir?” (2).

Depois daquele “tempo de antena”, aqueles dias mais próximos da glória, vinha a decadência, o declínio.

– “A partir de agora, estamos em barcos separados, desenrasca-te sozinho…”

Aquelas palavras proferidas atravessaram a larva, perfuraram-na como uma seta. Não aguentou.

Morreu.

Parte II

Nasceu o casulo. O círculo fechou. Aquele ser recolheu-se naquele envoltório de seda. Linhas se apagaram…

Veio a época quente. Aquele mar tormentoso já estava longe, mas regressaria daqui a uns três meses. O bicho dentro da cápsula foi cultivando o íntimo, as proximidades.

Uma chama delicada, ebúrnea e etérea foi-se acendendo no cerne do casulo. Tinha duas letras: F e E. A luz do Criador era poderosa o suficiente para atravessar as paredes da cápsula e iluminar a essência daquele ser dizimado, mas sem esturricar a sua integridade.

As vistas alumiaram-se. Foi dentro daquela cavidade que o bicho viu a cor da Vida.

Orgulho. Foi um orgulho saudável que se foi propagando no interior da criatura. Orgulho por pertencer àquele lugar. Orgulho pelo casulo pertencer àquele ramo.

Apesar de estar isolado na crisálida, estava a conhecer o Mundo. Fascinou-se por aqueles bichos de metal reluzente, uns dourados, outros cor de prata, outros até de couro e outras peles… O canto daquelas almas mexia com o ser…

Chegou o sétimo mês do calendário romano. Uns partiram, despediram-se, outros, sem uma palavra dita, foram-se divagando nesse mar da Vida, noutras jornadas.

E estava ali de novo. Agora com mais experiência. Agora mais amadurecido. Tudo parecia correr bem. Agora estava com Ele, ou, pelo menos, agora estava consciente disso.

Aquele otimismo cheirava a esturro, bom demais para ser verdade. Mal sabia aquele pequeno ser o que viria por aí…

E assim foi, mais uma vez. Segunda-feira, agora mais cedo, em novembro e por volta das 10h30 ou 11h00. Aquele colosso fez estragos, fez o Mundo tremer. O casulo balançou três vezes e três vezes balançou.

A incompreensão era incompreensível. O esforço todo tido como um fracasso fatal.

Momentos depois, tudo presságio virou. A mata à volta do casulo preencheu-se de flores, as agourentas prediletas da projeção de Maria Adelaide Garrett, feita por seu pai na sua obra (3).

O dia seguinte seria pior. O trinar luso daquelas heras e trepadeiras havia arrendado moradia na cabeça do bicho. Mais presságios?

Aquela figura imponente, persistente, ambiciosa havia tombado. Naquele solo escuro estava estendida. Ver aquele cenário desfragmentou, aos poucos, num processo ronceiro, como uma tortura chinesa que martiriza a vítima com simples gotas de água, o âmago do bicho enclausurado.

Aqueles últimos três meses foram de guerra. O casulo ardia naquele inverno infernal, porém gélido. Estaria aquela sábia já muito distante dos seus “VERDES ANOS”?

Aquele ser, vítima do Fado, continuava, não obstante o seu estado lastimoso.

Era ano novo, a mesma cantiga de sempre.

Veio um cheiro de otimismo. Fora mera ilusão. Ao quinto dia do novo ano, o ser começou a desfazer-se fisicamente. Fora neutralizado. Via a Vida a passar e ele ali imobilizado, padecendo. Não aguentou.

Morreu.

Parte III

Surgira aquele Papilionáceo (4). Rejuvenescido. O casulo ficara para trás. Ainda a recuperar das mazelas, viu florir, no seu interior, gratidão. Gratidão por tudo, até pela desgraça. Intrigante, não?

Os meses do novo ano foram passando. O exoesqueleto recuperando o seu vigor e consistência, até que…

Nova maleita aparecia, de repente. Aqueles nódulos gélidos foram-se consolidando no corpo do inseto. Eram compostos por inconformação, revolta, nojo, repúdio sobre a inópia quotidiana, a miséria recorrente.

Teve de aprender a viver com ela. Buscou cura para tamanha “SÍNDROME” por todo o lado: no canto daquelas criaturas harmoniosas, na Arte, na Cultura.

Para além disto, desta praga, pensou. Sim, pensou demasiado. Estava a ser devorado pelo colosso abismal, o “COGITO”. Talvez o “sentir a emoção” seja das maiores futilidades, só traz desgraça, ruína.

Para sempre estariam nele presentes tamanhas complicações, mas com o tempo, fora-se habituando.

O Fado, Fortuna, Destino, Karma ou Deus, como queiram chamar, havia-se definitivamente virado contra aquela alma.

Todo este malograr havia deixado o bicho como um ímpio. Virara-se então contra Deus. Questionou a necessidade d’A Obra, denegriu toda aquela gentalha, chumbada pelo feitiço d’”AQUELA CRIATURA MACILENTA”. Ela corrompera todas as espécies, todos os seres. Virou-os todos uns contra os outros, trouxe o vício de espetar o cutelo no lombo do outro, enfim…

Enfrentara a ira divina. Nada fazia sentido. Todo aquele mau presságio forçava o bicho a crer na existência d’Ele e na sua omnipotência, mas seria então genuíno?

O ambiente, todo o santo dia, quando chegava ao bosque, ao entardecer, era penoso. Toda a estrutura do ser era desfeita, esmagada, quebrada, em todos os sentidos e dimensões. Era estirada até não dar mais. As fibras começaram a apresentar ruturas. Não era capaz de mais, ma só possível era sempre insuficiente. Aquele mar sufocara aquele inseto, a mágoa era tanta que empolara a traqueia, a coça mental era tão forte que as noites mais pacatas eram sempre trevas agitadas que aniquilavam o ser tal como aquela noite anteriana no oceano (5).

Para além de todo este infortúnio, as horas passadas naquele rochedo branco e cinzento, com formas cúbicas, perto do Douro, eram infernais. Todas aquelas pragas, aquelas carraças, lombrigas, aqueles vermes, parasitavam o azarado que já nem o seu bater das asas era certo.

Dia após dia, a indiferença exterior perante a situação só aumentara, assim como o padecimento, que comprimia com pressões abismais todo o corpo do bicho até dimensões atómicas. Estava sufocado, enclausurado, num caos inexplicável, bizarro e malévolo. Não aguentou.

Morreu.

Epílogo

“Vais ter de morrer. Desculpa, eu sei que não é fácil ouvir isto, mas, acredita, a única certeza que vais levar daqui é o ciclo da Vida e, infelizmente, é aqui que a maioria das pessoas desiste até de entrar nesta escola, porque pensam que não vale a pena o sacrifício, se vão acabar por morrer na mesma…” (6). É com outro excerto, agora da faixa 9 do álbum já mencionado, que inicio o fim deste texto. Como Buda defendia, quando mudas, tudo muda. Há que mudar, mesmo que isso implique a morte daquilo que somos em prol de algo melhor. Assim termino, talvez, a minha maior metáfora, combinada com uma longuíssima perífrase que podia resumir-se aos meus últimos dois ou três anos passados, viajando por todas as composições deste meu “Diário de Escritas”. Mas calma! Esta “BELA METAMORFOSE” não finda aqui… Assim continuará a jornada deste ser, que já foi larva, que já foi casulo, que já foi borboleta.

NOTAS:

(1) – Excerto da música “Iminente”, de Papillon, do álbum “Deepak Looper”.

(2) – Citação de Arthur Schopenhauer.

(3) – Referência às “papoilas que fazem dormir”, da obra “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett. As flores eram presságio de desgraça. A personagem Maria era uma “projeção” de Maria Adelaide Garrett, feita por Almeida Garrett, seu pai.

(4) – Relativo a borboleta.

(5) – Referência ao soneto de Antero de Quental, “Oceano Nox”

(6) – Excerto da música “Imagina”, de Papillon, do álbum “Deepak Looper”

Ao longo deste texto, todas as expressões escritas em letras maiúsculas e entre aspas são títulos de textos escritos no âmbito deste projeto, “Diário de Escritas”, e que acabam por ter forte presença nesta composição.

*****

“Olá, solidão”, por Henrique Reinaitt (11.ºA)

No cimo de um monte, numa aldeia do interior, vivo numa casa de pedra praticamente isolada. Quase todos os moradores emigraram. Dizem que sou teimoso como as raízes das árvores que se entrelaçam no solo rochoso. A minha casa é pequena, com paredes grossas que abrigam memórias antigas. As janelas, há muito tempo sem alguns vidros, permitem que o vento e a luz entrem sem pedir licença, como se fizessem parte da casa. O fogo crepita na lareira, aquece o espaço reduzido, para mim enorme. Nas noites frias, enrolo-me em cobertores surrados e sonho com os tempos passados. Cresci entre estas paredes de pedra, conheço cada canto da aldeia, cada ruela sinuosa que nos leva a um pequeno ribeiro onde tantas vezes tomei banho. Tenho um único companheiro, um pequeno cão, tão velho quanto eu.

Nas noites de lua cheia, os lobos uivam, o vento sibila pelas frestas das janelas. Ainda cultivo um pedacinho de terra que me faz sentir vivo. Tenho ainda alguns vizinhos que, como eu, teimam em abandonar a nossa aldeia. Olham-me com admiração, mas também com pena, e perguntam-me como consigo viver ali sozinho, apenas com as memórias e um cão como companhia. Sorrio, não sei explicar porque fiquei, porque teimo em ficar aqui. Talvez por este ser o meu lugar, onde nasci e vivi, onde irei ser recordado. Foi aqui que fiz alguma história, faço parte das pessoas da aldeia. Não tenho medo da solidão, sou apenas um solitário, tenho o coração cheio de histórias que não quero esquecer. Sei que estou em casa.

Nas manhãs, acordo com o ranger da porta que fica sempre entreaberta. Não preciso de a fechar ou trancar de noite! Há muito tempo que deixaram de se interessar por esta pequena aldeia, dizem que o trabalho que se tem em vir cá não compensa com o que se pode levar. É claro que não posso concordar com tal ideia, por isso sou dos últimos a recusar daqui fugir.

Sei que o tempo de vida que tenho é curto, mas é aqui que anseio permanecer, fazer parte deste pequeno lugar que me viu nascer.

Ainda me lembro de as ruas serem pequenas para tantas crianças, de conhecermos cada pessoa da aldeia, de sabermos todos os nomes. Tínhamos sempre onde comer, nenhuma porta se fechava! Ainda hoje a minha permanece aberta, tenho esperança de que alguém entre e saiba o meu nome!

Nestes meus 94 anos, vi um mundo mudar e não sei para onde vai. Mudou mais depressa do que eu consigo acompanhar. Sei que já não pertenço a este mundo, mas à minha aldeia. Sim, ainda pertenço. Teimo em não morrer, para que a minha aldeia não morra também. Sei que se o fizer o seu nome será esquecido, e tenho esperança de que os que emigraram regressem um dia e tragam de novo o sorriso a este lugar, que se cansem do mundo e queiram voltar a viver. Deixo por isso sempre a porta aberta ao mundo que está lá fora, para que alguém que esteja moribundo e que se queira salvar possa viver. Faço-o por vós, não por mim.

Sou um solitário, mas não me sinto só. Os meus também partiram e ainda espero por eles. Sei que voltarão e, sempre que me levanto, olho o mundo lá fora e contemplo o meu.

Olá, solidão!

*****

“Procuro-te nos sítios por onde passo”, por Marta Couto (10.ºA)

Procuro-te nos sítios por onde passo,
no jardim que há em mim ,
talvez sejas flor,
mas talvez não constes no meu jardim.

Dou por mim em sítios por onde nunca passei,
lugares onde nunca pensei,
sítios que nunca vi,
mas mesmo assim não te vejo por aqui.

Entro na minha casa,
lugar que me é familiar,
onde o coração aquece
e a alma arrefece.

Procurei-te lá fora,
agora procuro-te dentro de mim,
mas se calhar procuro uma flor
que nunca foi flor do meu jardim.

*****

“A colina”, por Diana Ribeiro (10.º A)

Correndo colina abaixo segurando a tua mão, tu cantas e os pássaros também. O sol ilumina o caminho e o vento havia parado há pouco, sobrando apenas uma brisa ligeira. As flores desabrocham, as árvores repletas de cor. Paraste de cantar. Olho para o lado à procura do teu sorriso, mas já cá não estás. O sol ainda brilha, os pássaros ainda cantam, as árvores ainda estão coloridas, o dia continua lindo, mas, de repente, para mim ficou cinzento, desabando um bocadinho a cada segundo que passa sem ti.

*****

Olhei à minha volta

Coral Reef and Tropical Fish in Sunlight

Olhei à minha volta
Vi muitos animais,
Estrelas-do-mar, caranguejos e peixes.
Eles eram todos bestiais!

Olhei à minha volta
E naquele aquário transparente
Vi duas cores divididas:
Uma amarela e outra azul.
E elas da minha mente,
Nunca mais serão esquecidas!

Amélia Ribeiro, 5.ºB, junho de 2024

*****

“Casinha”, por Marta Couto (10.ºA)

Em português dizemos:
“Tenho saudades tuas”,
mas na poesia prefiro dizer:
“De longe me lembro de uma casinha,
pequena e apertadinha,
de cor amarela e com cheirinho de rosas,
bem construída, mas com as paredes rachadas devido ao tempo que as destruiu.
Nessa casinha já não moro mais,
visto que fui obrigada a sair,
mas sei que as chaves ainda estão por aí perdidas ou escondidas.
Essa casinha era a minha moradia,
com aconchego e cama quentinha,
levo comigo cada lembrança do meu pequeno lar, afinal ainda penso em voltar para lá,
para a minha casinha bonita e cheia de histórias.
Hoje guardo na minha memória os momentos em que vivi a felicidade de ali poder morar.
Será que algum dia poderei retornar?”

*****

“Pedir será pecado?”, por Henrique Reinaitt (11.ºA)

Normalmente acordo depois de todos acordarem ou pensarem que acordaram. Deito-me a horas tardias esperando por uma caridade, ou por algum amor que aqueça já o meu enrugado corpo.

De movimentos lentos e suaves, levanto-me pela dificuldade em me esticar no meu casulo de papelão. Vou espreitando a primeira luz do dia que me beija os olhos remelentos e semiabertos. Os ruídos do meu corpo já não me incomodam, estou já habituado a que o meu corpo sinta fome. Pelo menos já não se queixa!

Os sons habituais tomaram conta da cidade: passos lentos, outos acelerados batendo fortemente na calçada, passos que me vão dizendo como os corações que por ali percorrem se sentem. Os carros buzinam já sem saber o porquê, afinal parece ser normal que assim o seja!

As gaivotas também vêm à cidade à procura da mesma caridade que eu tanto anseio. Terei eu hoje mais sorte que elas? Confesso que sou rapidamente derrotado! O seu bico é mais forte do que os meus poucos dentes e são mais rápidas de movimentos.

Vejo as pessoas saciadas a saírem do café e trazem na sua mão um saco de grãos de milho para as gaivotas. Olham para mim com indiferença, todavia ainda olham!

Perdi a minha beleza há muito tempo, seria certamente menos preferível que as gaivotas. Já nem tenho voz, desaprendi a pedir. Como não sei escrever, pedi um dia a um amigo que me escrevesse num cartão – “Salve o meu coração!”. Guardo-o há muitos anos comigo. É a minha maior arma, é a minha ferramenta de trabalho. Algumas letras já estão um pouco degradadas, quiçá seja o motivo por não conseguir um grão de milho.

Aqui os dias não são iguais, nem diferentes dos outros. São indiferentes! Sei que escurece quando o sol se põe, e que amanhece quando os raios de sol atingem as minhas pupilas. Já deixei de me importar com as horas, trazem-me angústia e tristeza, lembram-me as horas das refeições. As horas do dia de que mais gosto são quando estou no meu casulo de papelão. Por acaso é um bom casulo de papelão, parece ser a melhor casa que algum dia tive! Gostava apenas de ter uma janela com uma cortina, mas só para a abrir de noite, momento em que as pessoas estão normais, deitadas e adormecidas. De dia fechava-a, porque não há nada que queira ver. Receio que me tirem aquilo que de mim sobrou. Gostava de aprender a pedir de outra forma, mais moderna, ou como uma gaivota, talvez me pudessem dar um grão de milho, mas já sou velho para aprender coisas novas. Oh solidão, és a única lembrança, a corda que me sufoca todos os segundos. Será pecado pedir?

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A Família

Na vida existem muitas coisas boas,
Mas uma delas nem preciso perguntar…
É a melhor de todas
Com muito amor para dar!

Nela têm pessoas para te cuidar,
Para te divertir,
Para desabafar
E para deixar o amor fluir.

Eu acho que vocês já sabem quem é,
Nem preciso dizer,
É a família, que está sempre connosco,
Do pôr do sol ao amanhecer!

Ariana Pereira, 5ºB, junho de 2024

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“O perfume das rosas”, por Henrique Reinaitt (11.ºA)

O seu cheiro percorre as ruas
Mesmo estando escondida,
Mostra a verdade nua e crua
De uma emoção que anda perdida.

É o símbolo do amor,
Universalmente aceite,
Todos conhecemos a sua cor,
E com ela se enfeite!

Rosa, que nos faz chorar
Muitas vezes de alegria!
É o símbolo de quem quer amar
E viver consigo em harmonia.

Evidencia-se das outras flores
Pela sua cor deveras forte,
Flor que mostra os valores,
Valores, mesmo na hora da morte!

Sem querer ser diferente,
E sem ter culpa de ser cheirosa,
É o que nós queremos conhecer,
O perfume da bela rosa!

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“Parecia poesia”, por Marta Couto (10.ºA)

Abri a janela do meu coração
E dois passarinhos azuis de lá saíram
Voavam lado a lado
Como se dançassem no ar
Uma dança para mim desconhecida
Pois para além de não saber dançar
Nunca experimentei voar.

Mas apreciava-os ao longe
Parecia poesia
Nada escrito
Mas tudo rimava
Como todas as vezes que te disse “Amo-te”
Sem uma palavra dizer.

Como uma tarde de verão
A brisa fresca do mar
E o calor a abrandar
É poesia em movimento
É poesia sem falar
Para tudo, para o tempo
Que por um momento
Dou por mim a saber voar.

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“Para aqueles dois que nunca esquecerei”, por Bruna Pinto (10.ºB3)

Duas pessoas incríveis, tão preciosas,
corações bons e generosos.
Aqueles que me animam
são aqueles que me ensinam,

são como estrelas que me guiam.
Em cada abraço, um porto seguro,
trazem-me paz e alegria.
Duas pessoas por quem tenho todo o carinho,

Neste poema simples e sincero,
Agradeço-vos por tudo.

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“Boato”, por Bruna Pinto (10.ºB3)

No beco daquela rua estreita
O boato sorrateiro e vaidoso entoa
Segredos sussurados e mentirosos voam
De porta em porta sem piedade.

Os rumores espalham-se como fogo
Consumindo almas com o seu ódio
Mas aquele que semeia o mal de língua afiada
Colherá um dia a amargura da sua jornada.

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“Voltar a sonhar”, por Henrique Reinaitt (11.ºA)

O sol deita-se lentamente sobre o monte que fica de frente para a janela do meu quarto. Alguns raios ainda teimam em invadir o meu corpo, por entre as frestas da janela. O céu alaranjado vai escurecendo lentamente, convidando a lua a nascer. Estou sentado na varanda, tendo como pano de fundo o rio Douro. Consigo observar a curva mais bonita do seu percurso. É um privilégio viver nesta serenidade!

Hoje sinto-me nostálgico! Estou a ser invadido por recordações da minha feliz infância. De repente, o meu coração começa a ficar manchado pela saudade. Sinto saudades de ser criança. Saudades de passar uma tarde inteira no quintal da minha avó, acariciado pela erva fofa do seu jardim. Saudades de viver sem me preocupar com o amanhã e com este amigo Tempo, que nos arrasta numa viagem vertiginosa e um tanto incerta. Saudades de amar e ser amado, mesmo sem conhecer os perigos do amor. Saudades de ouvir as vozes das crianças que, na minha rua, hibernavam, sem nunca mais a quererem largar. Saudades de dormir nos braços da minha mãe nas noites em que os relâmpagos me transportavam para a escuridão e a chuva embatia nas grades da varanda. Saudades de viver num sonho, de sonhar constantemente, de desejar ser crescido.

Agora que o mundo adulto começa a dominar a minha alma, sinto-me perdido na sua monotonia e nos seus problemas banais que perduram dolorosamente na minha mente. Problemas que me transportam para a amargura e visões do mundo que não conhecia. Visões que me transportam para um desejo colossal de abandonar esta vida e regressar ao tempo em que podia viver mais uns minutos a magia daquela que é a fase mais bonita da vida humana, a infância.

Porque criança é aquela cuja lágrima é sincera e o sorriso é harmonioso e contagiante. É aquela que nos mostra que a vida, apesar de difícil, se pode tornar radiante com um sorriso. É aquela que nos rompe a alma com um olhar humilde e verdadeiro. É aquela para quem uma simples borboleta se torna o motivo da sua felicidade. É aquela que vive num sonho, onde apenas existem flores, amor, esperança, e se prepara para acordar no mundo real. Um mundo que poderá ser recuperado pelas lembranças. As lembranças de uma vida feliz que marcam os nossos corações com um rasto de amor e de alegria, capazes de combater a saudade e a monotonia do mundo adulto.

As lembranças são o motor para o ser humano voltar a sonhar e a mergulhar no oceano de cor e magia de ser criança. Já o dizia Fernando Pessoa, “A criança que fui chora na estrada. / Deixei-a ali quando vim ser quem sou; / Mas hoje, vendo que o que sou é nada, / Quero ir buscar quem fui onde ficou”.

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“Ser amigo”, por Matilde Martins (10.º B3)

Ser amigo é como um sol brilhante
que aquece a alma, constante.
É riso compartilhado, abraço apertado,
é um laço forte, nunca desatado.

É ser luz nas noites escuras,
nas alegrias e nas amarguras.
É ser o ombro amigo, seguro e leal,
caminhando juntos e passo a passo sem igual.

É ouvir sem julgar, é compreender,
é, nas tristezas, fazer o coração renascer.
É estar presente, mesmo à distância,
na dança da vida, uma eterna confiança.

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“O Tempo”, por Matilde Monteiro (8.ºA)

Bati à porta do Tempo, sem tempo para esperar,
O Tempo logo abriu a porta, colocou-se ao meu dispor,
E convidou-me a entrar.

Bati à porta do Tempo, sem saber o que fazer,
Pedi ao Tempo mais tempo, para fazer o que eu gosto,
Para melhorar o meu crescer.

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“Querido Avô”, por Matilde Monteiro (8.ºA)

Eu tenho muitos sonhos,
Mas tenho um que nunca se poderá realizar,
Estar outra vez contigo,
Só pedia um minuto,
Para te dizer o orgulho que tenho em ti e o quanto te adoro,
Queria poder abraçar-te de novo,
Queria voltar a sorrir como sorria.
Quando estavas aqui era tudo mais fácil,
O meu maior sonho era esse,
Estar contigo.

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“O Mar”, por Matilde Monteiro (8.ºA)

O mar é onde eu me sinto bem,
É onde posso desabafar com as ondas,
É onde eu me sinto feliz,
Ouço muitos ruídos,
E sinto que liberto um peso enorme de mim.

Quando vou ao mar,
Quero ir sozinha,
O mar traz-me sentimento de alegria,
O que às vezes me falta.
Sinto-me só,vou ao mar,
Quero desabafar, vou ao mar.
O mar é a minha segunda casa.

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“Reflexão Solta”, por Tiago Freitas (11.ºA)

Eram os últimos dias do período. 7:20 da manhã talvez. Antes de descer à porta do Batista, aproveitei para contemplar e contemplar a obra colossal que capturava o meu olhar. O céu estava pintado com uma miscelânea de cores fascinante. Para cima (quem vai para Penafiel), predominavam os contrastes entre um magenta alaranjado com tons azulados, já para baixo (quem vai para o Porto) eram tons escarlates mais pesados que dominavam aquele espetáculo. Naqueles instantes reparei em algo que, em todos os meus anos passados em Rio Mau, jamais me ocorrera. As serras e os montes pareciam abraçar Rio Mau, Sebolido e as outras terras da outra margem do Rio Douro, como Raiva, Pedorido, Pé de Moura.

Senti gratidão. Gratidão por poder contemplar esta obra abundante em magnificência, por viver numa terra pacata onde posso acordar tranquilo e viver sem receios de ser presenteado com balas perdidas ou um míssil balístico.

Sinto-me deveras maravilhado. O pressionar das chaves daquele barril metálico dourado, o som magicado por aquele instrumento transpositor, a onda melancólica que nos leva a bares antigos e nos serve um copo sem esquecer o bom cachimbo na boca, fortemente presente naqueles “jazzes”. Sinto-me arrependido por ter deixado passar, ao lado todos estes anos, esta cultura, a Música. Uma obra de teor divino.

Sinto-me intrigado. No outro dia, estava a pensar comigo mesmo: nós, humanos, temos especialistas para tudo, Biólogos, Matemáticos, Historiadores, Filósofos, entre muitos outros… Estes dedicam-se a estudar os mistérios naturais, a perfeição das matemáticas, os conflitos passados, e questões e problemas do mais filosófico que há. Tudo bem, mas fica a escapar um domínio. Como é possível o Homem sofrer tanto por aquele calor fervoroso que esquenta o nosso âmago, a nossa alma, a nossa essência e não haver ninguém que domine essa matéria? Será um problema mais-que-filosófico? Ou será que o ser humano gosta de sofrer constantemente por este sentimento ilusório, vil e que corrompe? De perder a vida em prol de uma paixão? Muito sinceramente, não sei.

No outro dia, lia eu numa parte dos muitos prefácios da edição d’Os Maias1 que tenho lá em casa, quando uma frase me atravessa como uma seta: “é na simplicidade do campo que se encontra a cura para os males da hipercivilização”. Factos. O Homem vive na ilusão de que a terra dos sonhos é a cidade, onde a vida boa é abundante, têm tudo à mão, mas esquecem-se de que nada é de graça nesta vida e com isso perdem a paz, a cor, a vida, ficam ali, sepultados nos cemitérios dos vivos, nas selvas de cimento, “dopados” a viver uma quimera eterna e cancerígena.

Os Maias1, Eça de Queirós

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“A mudança”, por Ana Cunha (10ºA)

A vida é feita de mudanças, uma constante dança,
Boas ou más, todas fazem parte,
Ajudam-nos a crescer e a aprender a cada instante.

Lembro-me da escola primária, uma época tão singela,
Tudo era novidade, um mundo a desvendar com cautela,
Um belo ciclo começou.

Brincar no recreio, risadas e diversão sem igual,
Com os amigos ao redor,
Não havia preocupações.

Mas o tempo passa, e as mudanças são inevitáveis.
Novos horizontes surgem, como contos inesquecíveis,
E as memórias desses dias permanecem admiráveis.

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“Pequena reflexão sobre a Mudança”, por Vanessa Costa (10.ºA)

A Mudança é uma das poucas constantes na vida, uma constante inevitável que molda e define o nosso destino. Com a Mudança, o calor passa a frio; o verão, a inverno; o amor, a dor; e a felicidade, a tristeza. A Mudança desafia-nos a abandonar o conforto do conhecido e a abraçar o desconhecido. A Mudança pode ser assustadora e imprevisível, mas também nos oferece oportunidades de crescimento e aprendizagem. É através da Mudança que descobrimos a nossa resiliência e a capacidade de evoluir. Por tudo isto, e mesmo sendo difícil, devemos abraçar a Mudança com coragem e confiança.

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“Quando os girassóis murcharem”, por Henrique Reinaitt (11.ºA)

(Inspirado na poesia lírica camoniana)

Percorro aquele campo que se estende por toda a estrada. O sol tinge o céu num tom alaranjado e as andorinhas voam pela última vez. Caminho lentamente ao longo daquela paisagem que me é tão familiar. O vento sussurra e parece dificultar o meu percurso. Tudo parece ser insignificante. O trigo, os carvalhos, o pequeno lago. Nada desperta o meu olhar exceto três girassóis que permanecem em redor de um tronco oco, outrora derrubado. O vento entoa e fá-los balancear. As suas pétalas choram pelos últimos raios do sol que sorrateiramente se vão desvanecendo.

Era neste mesmo campo que se enchia de girassóis na primavera que corria com a minha avó. As suas mãos secas, um tanto rugosas, seguravam o meu braço miúdo. A sua saia de linho acariciava as minhas pernas já húmidas e macias.

Ali o seu cabelo cinza esvoaçava à melodia do vento. Aqui deambulava pelo chão irregular. Ali sentava-se no tronco de um carvalho velho. Aqui observava-me com um olhar puro, genuíno, espelho de uma alma serena. Ali acariciava os girassóis esperando o momento em que chamasse pelo seu nome. Aqui colhíamos girassóis, carregando-os em cestas cheias dos mesmos ao longo daquela estrada onde apenas havia amor. Enfim, estes pedaços de contentamento e o desejo de sentir o aroma dos girassóis confundido com o hálito a café da minha avó eram cada vez mais intensos.

Hoje percorro esta estrada sozinho na tentativa de manter a minha avó presente. O campo de girassóis deu lugar a um campo de trigo e a mulher sorridente que costumava acariciá-los transformou-se em saudade. Assim como todo aquele campo se desvaneceu, a minha avó cedeu à doença e caiu no esquecimento. Toda a sua vida já não é por si lembrada.

Apenas restam três girassóis daquilo que foi a nossa felicidade e são a única razão pela qual continuo a percorrer este campo, outrora o nosso lar.

Começa a chover. As lágrimas correm-me pela face confundindo-se com as pingas que das nuvens surgem. Oh solidão, que me sufocas! Poderei eu sorrir só mais uma vez com a minha amada? Continuo aquela estrada num passo cada vez mais acelerado, na tentativa de escapar a cada gota e evitar ser atingido. A paisagem foi rapidamente ocupada pela penumbra, e, já terminada a chuva, surge o silêncio. Um silêncio ruidoso. Um silêncio ensurdecedor que apenas me relembra a minha vida. Uma vida dolorosa. Uma vida apagada. Uma vida que não fará mais sentido quando os girassóis murcharem. As lágrimas que me escorrem pela face, acredito serem a voz da minha avó, que me diz “Amo-te!”.

Cheguei ao fim daquela estrada. Não tenho coragem de olhar para trás. Quero poupar as lágrimas para uma próxima vez…

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“A árvore”, por Maria Ochoa Gonçalves / Angel Mago (10.ºB2)

De uma semente

Cresceu esta árvore

Num terreno sóbrio

Fechado à chave.

Ano, após ano,

Ganhou forma e corpo

Já de amigos

Tinha pouco.

Voltando as andorinhas

Ficou toda em flor

Cenário propício

A muito amor.

Mas, como poderá esta árvore

Ter flores desta maneira,

Se está selada

Feita prisioneira?

Resposta difícil

Para seres como nós

Que com sentimentos

É triste ficarmos sós.

Já esta árvore

Não tendo consciência

É escusada

Qualquer clemência.

                                Angel Mago

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“Esperança”, por Maria Ochoa Gonçalves / Angel Mago (10.ºB2)

Dentro de mim havia algo

Aceso como uma vela

Que me fazia feliz

Quando me lembrava dela.

Dentro de mim havia luz

Um caminho a percorrer

Mas, de um momento para o outro,

Estava tudo a desaparecer.

Como é bela a ideia

Da vida com cor

E sempre que me recordo

Caem lágrimas de dor.

Como era bela a esperança

De um dia em vão

Esperança que se apagou

Por um sopro de desilusão

                                             Angel Mago

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“A Família”, por Matilde Martins (10.ºB3)

No lar, um poema que o tempo constrói,

a família é abrigo, onde a alma floresce.

Na nossa vida, cada memória é um traço,

pintamos afetos num eterno abraço.

Nos corações, o amor como semente,

a família é raiz, forte e resiliente.

Nas páginas do tempo, juntos a escrever

a poesia da família, que nunca para de crescer.                                                                                 

Matilde Martins 10.ºB3

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“O teu sofrimento”, por Rita Neves (10.ºB)

Se eu pudesse curar

todo o teu sofrimento,

eu iria ajudar

a aliviar esse teu tormento.

Desde cedo que vives esta dor.

Eu queria ver tudo passar.

Tudo isto é tão avassalador

que nem gosto de me lembrar.

És uma criança indefesa,

que eu muito admiro.

És uma grande riqueza,

 em ti eu me inspiro.

Sete anos de tortura,

sem repostas e soluções.

Todos procuramos uma cura

para alegrar nossos corações.

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A Mulher no século XXI versus a Mulher no século XVI”, por Beatriz Duarte/Isa Sepúlbe (10.ºB3)

Sofisticada e glamorosa era aquela mulher pomposa.

Lá vinha ela com o seu vestido longo, naquele século XVI, que espantava todos.

Aquele pescoço que se destacava enquanto a sua saia seguia pelo chão arrastada.

Aquela perseguição que a prendia, porque nem entrar na Igreja podia.

A casa onde se encontrava era sempre motivo de limpeza.

Mas tudo o que sentia era uma profunda tristeza.

Estilosa e independente é a mulher no meu tempo.

Feliz ou triste ela pode viver plenamente.

Chegar ao trabalho, poder sentar-se e lembrar-se de como os filhos pode amar.

Por tantos amores não correspondidos, ela só quer ser amada em todos os sentidos.

Mas tudo o que não quer são amores proibidos.

A mulher no século XXI é uma mulher resiliente, uma mulher forte e sobretudo contente.

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“Se eu pudesse mudar”, por Beatriz Duarte / Isa Sepúlbe (10.ºB3)

Se eu pudesse mudar o tempo para naquele dia ficar,

se eu pudesse mudar o tempo para conseguires voltar,

a carta escrita cheia de erros e imperfeições

foi a carta mais especial escrita com todas as minhas emoções.

Nunca a conseguiste ler,

mas sei que o meu carinho conseguias compreender,

por todas as conversas de horas

que se tornaram em memórias…

Senti que te poderia ver,

mas tive tanto medo de te perder.

Na hora em que soube que não ias voltar,

foi quando soube que com as minhas emoções não sabia lidar.

A esperança de poder ser mentira,

se eu pudesse, talvez te contasse

tudo aquilo que te escrevi,

antes do tempo de partirmos.

Se eu pudesse mudar o tempo…

Se eu pudesse mudar…

*****