Sofro enclausurada no meu ser,
Sem poder sair de mim!
Choro por dentro sem conhecer
o mundo que não tem fim.
Gemido que me consome a alma,
Que me faz morrer por dentro.
Lágrima que escorre e me acalma,
E que seca com o puro vento.
O silêncio acalma, o ruído aterroriza,
O ranger da porta, o caminhar temido!
Surge na noite a sombra imprecisa
De quem me roubou a luz, o brilho.
Embora oiça o meu próprio grito,
Que perdura no meu sofrimento,
Parece ser um livro escrito
Com o eco do meu lamento.
Grito alto para alguém ouvir,
Mesmo que o grito não saia de mim!
Grito ao mundo para pedir
Que a dor também tenha fim.
Tenho a alma dilacerada
Por quem não me quis amar.
Cicatriz na pele desenhada,
Corpo inválido sem poder falar.
Mas a esperança permanece
De voltar a ser eu.
Tenho uma história que se esquece,
Num livro que ninguém leu.
As feridas cicatrizam
Com o tempo de saber esperar!
Rugas que me martirizam
Numa luta por acabar.
Mas um dia vou-me conhecer
E as cicatrizes disfarçar.
Um novo mundo há de aparecer
E a mulher vangloriar.
Sou corpo que dá vida
Para um novo ser poder nascer.
Não sou saco, nem pedra partida
Para pancada poder ser!