Sinopse da obra: “Um casal foi de férias para o Rio de Janeiro, numa viagem que prometia ser inesquecível. Depois de dias encantadores, banhados pelo sol e pelo espírito leve e sempre em festa carioca, aproveitam uma das últimas noites para irem jantar fora. Quando terminam a refeição, satisfeitos e apaixonados, decidem ir a pé para o hotel, mas não se recordam se o caminho mais perto é pela esquerda ou pela direita. Como é que a vida pode mudar tanto, apenas assim, por uma escolha irrisória?
Um relato profundo e duro, escrito na primeira pessoa, que se debruça sobre a finitude da vida, as decisões irrefletidas que a moldam e o conceito de amor eterno, com a cidade maravilhosa como pano de fundo.”
Recentemente, foi-me recomendada a leitura do livro “A Cicatriz”, de Maria Francisca Gama, leitura essa que me fez refletir o seguinte:
Enquanto humanos, acredito que, de forma a podermos viver plenamente e sermos felizes (claro, cada qual com as suas próprias cicatrizes), somos obrigados a desconsiderar que o mundo não é um local bom. Ao redor do planeta, a cada segundo que passa, há alguém em sofrimento. Tal é, claro, por vezes inevitável, mas muito deste sofrimento é causado por outras pessoas. Seria antagónico, claro, o Homem conseguir ser feliz num ambiente carregado de maldade causada por ele próprio. Estatisticamente, ao redor do mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde,) 1 em cada 4 mulheres é vítima de abuso sexual durante a sua vida. No nosso país, cerca de 40 mulheres foram violadas por mês no passado ano de 2024. No Brasil, país onde decorre a ação desta obra, foi registado (também em 2024) um caso de violência sexual a cada 6 minutos. Tal como todas estas mulheres, a personagem principal desta obra carrega sonhos, esperanças e histórias, e vê tudo isto desvanecer por meio da crueldade do ser humano.
Uma obra dura, nua e crua, que faz o leitor refletir sobre como o ser humano carrega consigo a praga da violência. Apesar de abordar um tema importantíssimo, e que reflete a realidade de muita gente, não recomendaria a leitura desta obra, contradizendo os milhares de opiniões que vi “online”, já que, como referi previamente, de forma a sermos felizes, devemos (infelizmente) ignorar certos acontecimentos, e esta obra teve como principal efeito lembrar-me da desumanidade que ecoa no mundo em que vivemos.