Aprendi a escrever a palavra “avô” com seis anos. Diziam-me:
– A palavra “avô” tem um chapéu, porque os avôs usam chapéu.
– A palavra “avô” tem um bigode, porque os avôs têm bigode.
Na realidade, isto era uma grande mentira. Nenhum dos meus avôs usava chapéu ou tinha bigode. Apesar de não saber ainda distinguir os acentos, eu sabia bem o significado da palavra.
O “avô” era quem me levava à escola, era quem cantarolava músicas antigas.
O “avô” tinha uma barriga grande e alguns até a usavam como almofada.
O “avô” foi quem me ensinou como se deve comer a sério.
O ”avô” era quem apanhava grilos e me explicava tudo sobre eles.
O “avô” era o avô, sem chapéu e sem bigode, mas era o meu AVÔ.